Silêncio - 2017 (filme)

Martin Scorcese faz mais um filme brilhante. Estranho como o filme não causou tanto alvoroço e foi indicado a apenas uma estatueta do Oscar esse ano (fotografia). Poderia ter levado indicação de melhor ator para Andrew Garfield (que já estava indicado por “Até o último homem”) e também Adam Driver e Liam Neeson na categoria de coadjuvantes. Além disso, esse filme ficou entre os melhores que vi nesse ano, à frente do vencedor da estatueta (Moonlight) e até mesmo de outros indicados.

O filme se passa no século XVII, quando as missões dos padres jesuítas se espalham pelo mundo. O foco da narrativa é o trabalho dos pregadores da palavra de Cristo no Japão. Após o sumiço do Padre Ferreira (Neeson), os jovens Rodrigues (Garfield) e Garupe (Driver) são então enviados para o Japão para continuar na missão jesuíta e também encontrar Ferreira que, dizem, renunciou à Igreja. À época, havia uma perseguição e extermínio dos jesuítas na ilha asiática e também a tortura aos novos cristãos, que eram forçados a renunciar sua fé cristã. Os jovens chegam ao Japão sabendo dos riscos que correm e enfrentam muitas adversidades, entre fome, fuga dos inquisidores locais e também travessia de mares e florestas.

A fotografia do filme é excelente e o título traduz exatamente o que se sente durante as duas horas e quarenta minutos de filme: silêncio. A quase ausência de trilha sonora, os diálogos quase sussurrados ao longo da maior parte do filme, as preces dos cristãos escondidos por conta dos riscos de serem descobertos a qualquer momento nos deixam também em silêncio, quase sem respirar. Mesmo sendo longo, o filme prende nossa atenção. A riqueza dos detalhes, a atuação espetacular de Andrew Garfield e todo o conjunto da obra hipnotizam o espectador. Sem falar que é muito bom ver um período histórico por uma perspectiva diferente, pois, como colonizados por Portugal, conhecemos apenas a luta dos jesuítas no Brasil dizimando a cultura indígena e empurrando o credo católico em nossas terras e pouco sabemos de como foi essa peregrinação em outros locais. Interessante ver a força dos japoneses na luta contra esse domínio. Não direi aqui como termina o filme, mas é meio óbvio para você entender né? Afinal, qual a penetração do Cristianismo nos dias de hoje entre os japoneses? (Ooops, acho que entreguei o jogo).

Enfim, o filme é excelente e vale muito a pena conferir, independentemente de seu credo. Mas confesso que só passei a admirar ainda mais o budismo (apesar da violência com que lutaram contra os padres e cristãos). Mas os diálogos finais mostram a força dessa cultura religiosa. Um último comentário: Andrew Garfield é um ator que ainda vamos ver brilhar muito. Só acho!

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