Elis - 2016 (filme)

Cinebiografia de uma das maiores vozes brasileira (senão a maior), o filme retrata boa parte da vida de Elis Regina tem alguns pontos que divergem da biografia da cantora e outros tantos que não foram devidamente explorados. Mas, de uma forma geral, o filme traz uma justa homenagem à eterna Pimentinha (apelido dado por Vinicius de Moraes à ela, devido ao seu temperamento). A produção é bem feita, com a reconstituição de cenários e locações dos anos 60, 70 e 80 e s atores estão bem. Gostei de Andréia Horta como Elis, mas achei meio forçado seu sorriso, principalmente no início do filme. Ela só encontrou o tom correto depois da metade, mas ainda assim, com certo exagero e caricatural demais.

O filme emociona, principalmente quando são apresentadas as canções “Atrás da Porta” e “Fascinação”, embora essa última, parte do show “Falso Brilhante” não mostre a grandeza que foi esse espetáculo, com mais de 300 apresentações e sucesso de público por mais de um ano em cartaz, recorde de bilheteria nacional. Aliás, muitas citações do filme se perdem sem as referências da relevância nacional das atitudes e sucessos da cantora.

Algumas falhas que identifiquei são: quando ela se apresentou nos Jogos Olímpicos do Exercito no inicio dos Anos 70, ela cantou o Hino Nacional e não Madalena, como o filme apresenta. Faz muita diferença isso, ainda mais coma  repercussão que teve e  reação de Henfil n’O Pasquim. Também as brigas com Bôscoli depois de casados aparecem de forma muito mais light do que realmente foram, bem como o envolvimento com drogas da cantora, que acabaram por vitimá-la em 1982. A direção/roteiro nem se dão ao trabalho de dizer a idade que Elis tinha quando morreu. Para os jovens que estão assistindo o filme para conhecer a cantora que morreu antes deles nascerem, isso é uma falha grave.

Falando em datas, o filme carece de referências e não conseguimos entender exatamente o ano em que cada coisa acontece. Outro ponto é que o filme começa em 1964, com Elis e seu pai chegando no Rio para gravar. Na verdade, a cantora já havia lançado “Viva a Brotolândia” em 1961, e outros três álbuns antes de 64. Também são ínfimas as referências aos novos compositores lançados por ela, como Aldir Blanc, Milton Nascimento, Ivan Lins, João Bosco, Belchior. Também não mencionam que ela foi a primeira artista a vender mais de 1 milhão de discos e nem que ela lançou em 21 anos de carreira mais de 24 álbuns (entre estúdio e ao vivo, sem mencionar os compactos/singles).

A minha impressão é de que queriam fazer um filme para mostrar a semelhança da atriz Andréia Horta com a cantora e mostrar ela interpretando Elis nos palcos fazendo caras e bocas e a história mesmo fica em segundo plano, servido apenas de escada para ligar um numero musical a outro. E, entre os grandes números musicais, não foi incluído o dueto dela com Tom Jobim, um dos maiores clássicos da MPB em Águas de Março.

Ah, sim, além da protagonista que já citei, o filme traz Gustavo Machado como Bôscoli, Caco Ciocler como Cesar Camargo Mariano, Lúcio Mauro Filho como Miéle, Julio Andrade como Lennie Dale, Ìcaro Silva como Jair Rodrigues e Rodrigo Pandolfo como Nelson Motta.

Em resumo, o registro é válido como forma de trazer de novo A VOZ para a mídia, mas enquanto biografia e registro histórico, deixa a desejar. É emocionante por conta da trilha sonora que fez parte de minha infância mas não é o retrato que eu esperava ver. Confesso que até o musical que esteve em cartaz nos teatros alguns anos atrás foi melhor, mesmo sem ter todos os recursos que o cinema agrega.

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