Brejo Fundo - Capitulo 17

Fernanda e Ronaldo já estavam no bar do Fred, esperando seus amigos Ifdan e Perereca. Junto com eles estavam também Nando e Ana Terra. Gláucio e Silvia estavam na mesa ao lado, sendo servidos por Pymenta, que mais conversava do que servia.

Ronaldo diz:
- Ah, eles estão demorando, então já vamos falar com vocês. Queríamos que vocês fossem meus padrinhos de casamento, tio.
- Nossa, mas que honra! – respondeu Nando – mas a gente também vai estar no altar. Vamos nos casar junto com vocês. Vamos fazer a maior festa de casamento que essa cidade já viu!
- Imagina só, era a primeira vez que a madrinha não precisará se preocupar em vestir branco – riu Ana Terra.

Ifdan e Perereca chegam no bar e cumprimentam os amigos. Ainda estão se acomodando nas cadeiras quando Fernanda anuncia:
- Ifdan, gostaria que você e Perereca fossem meus padrinhos de casamento. Afinal, somos amigos desde a infância e a Perereca é sua melhor amiga e nesse pouco tempo que está aqui na cidade já é parte de nossa família!
- Ai, Fer, muito obrigada! Eu realmente estou amando essa cidade. Pena que em pouco tempo teremos que voltar para a capital, pois ainda temos que terminar a faculdade.
- Eu sei, Perereca, mas sabendo que você tem uma comadre aqui, você terá sempre mais um motivo para voltar!
- E voltarei sempre!
- Ah! E não sei se vocês já sabem – interrompe Nando – mas eu e Ana seremos padrinhos deles, além de casarmos juntos no mesmo dia!
- Então será um festão mesmo! – empolga-se Ifdan.
- Com certeza – sorri Fernanda.
- E vocês – pergunta Perereca – já sabem quem serão seus padrinhos?
- Eu vou chamar a Tatá Lima e o Vitório Moretti para serem meus padrinhos – responde Ana – A Tatá já tinha me dito era minha obrigação chamá-la, como se isso não fosse óbvio que aconteceria – completa, rindo.
- E eu vou chamar Cacau, meu amigo mergulhador. E para entrar com ele na Igreja vou chamar Aline.
- Aline? – surpreendeu-se Fernanda – mas ela é criada de vocês.
- Ela é mais que uma criada. Ela é parte de nossa família – respondeu Nando.
- Tio, eu acho ótima essa idéia. A Aline ficará feliz mesmo!

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Donly está dormindo com os pés sobre a mesa, cadeira reclinada e com o ventilador de teto da delegacia ligado na velocidade baixa, fazendo mais ruído do que vento. A índia entra e delicadamente tenta acordar o policial. Mas ele nem se mexe. A anã Mikaloski, que estava com ela, dá um cutucão mais forte e nada. Somente quando Nath dá um grito, o policial acorda, no susto, com a cadeira virando para trás, seus pés lançados no ar e sua pança quase dobrando sobre sua cabeça.
- ALOCKAAAAAAAAAAAAAA! Que que é isso, gente?
Com o grito do policial, a delegada sai de sua sala e vê as duas. Junto com ela vem também  Hugo Gossip, o investigador.
- O que está acontecendo aqui? – Pergunta ela.
- BOM DIA para quem é vesgo e vê o mundo com uma perspectiva diferente – dispara Hugo Gossip.
- Bom dia, dona delegada! – respondem as duas, em uníssono.
- Não acredito que a senhorita veio seentregar, Mikaloski. Estamos a sua procura há dias! – completa a delegada – Donly, por favor conduza essa moça até a cela.
- Alockaaaaaa! Finalmente alguém vai dormir no xilindró!
- Espere, D. Quitéria! Antes de você levar minha filha, preciso te contar uma coisa – pede Nath.
- Sua filha? Como assim, índia?

A índia explica a história de como a anã e ela se separaram, do incêndio provocado pelo pai de PV e também da fuga da índia que nada tinha a ver com o roubo da estátua. Tudo é confirmado pela jovem anã estrábica e o investigador anota tudo. Ao final a índia diz:
- Mas não estamos aqui para te contar essa história. Acontece que quando nos encontramos, fomos procurar o Oc, mas o velho sumiu. Estamos há dias procurando por ele e nem sinal dele.
- E eu queria também deixar registrado que nunca fui macumbeira – explica Mikaloski – quando eu saía da cidade carregando os pratos de farofa e velas, além de galinha e cachaça, não era para despachos, como todos pensavam. Eu estava levando comida para meu pai e velas para iluminar as noites escuras da floresta. Mas Renata, aquela beata, interpretava tudo de forma errada. Ela tem uma visão deturpada do mundo!
- Sim, mas mesmo com toda essa história, Mikaloski, você ainda é a principal suspeita do roubo da estátua e seremos obrigados a mantê-la presa enquanto prosseguimos a investigação. – resume Hugo Gossip.
- Olha! Finalmente Hugo fez uma frase sem dizer BOM DIA! ALOCKA! – debocha Donly.

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Leo Ariano e Duh estão terminando de colocar a estrutura do circo nos caminhões para seguir viagem. Duh passa na delegacia para se despedir de Mikaloski e vê a pobre índia sentada no meio-fio, triste, desiludida por não encontrar seu amor e por ter sua filha presa. Ele passa por ela, faz um aceno discreto e volta para o caminhão. O ônibus diário chega nesse momento. Dele desce Tatá Lima e Vitório Moretti.

- Olha lá quem está chegando! ALOCKA! – grita Donly – veio sem avisar!
- BOM DIA famosa que resolve dar as caras no fim do mundo – completa Hugo Gossip.
- Bom dia, policial, bom dia, senhor! Bom ver voe por aqui, Donly. Preciso falar com a Quitéria urgente – fala a diva.
- Pode falar com esse aqui, ó! Esse é o investigador novo que veio para a cidade, pois roubaram a nossa Santa! – disse a índia infeliz.
- Pois é sobre isso mesmo que quero falar! Vim para a cidade pois tenho informações importantes sobre esse roubo! – diz Tatá.
- Como assim? Então o pessoal da capital tá sabendo do roubo da Santa? – intromete-se Silvia que já tinha visto o tumulto e se aproximava.
- Sim, não! Mais ou menos – responde Tatá.
- Como assim? Não estamos entendendo – diz o investigador.
Nisso, Renata, Tatiane, Padre Renato e o Arcebispo se aproximam.
- Essa santa não é santa! – sentencia Tatá.
- Não fale assim de nossa santa! – diz Renata já rodando a bolsa para partir pra cima de Tatá – Só porque você é famosa fica achando pode passar por cima da Igreja?
- Calma, calma – apazigua Padre Renato – Vamos ouvir o que ela tem a dizer.
- Essa escultura que apareceu aqui na cidade não é de santa alguma! Vitório, mostre as fotos para eles. – pede Tatá.
Renata quase esbofeteia Tatá, mas é contida pelo padre. O arcebispo mostra-se bem tonto, quase sem acreditar no que ouve. Mas Tatá continua:
- Olhe essas fotos e recortes de jornal. Essa que vocês tomaram com santa nada mais é que uma imagem de Botero, um trabalho que ele fez em homenagem a Ivete Sangalo, grande cantora. Ele fez uma imagem roliça, mais baixa, uma cópia da Ivete que não canta, pois é só uma boneca!
- Espera aí! Me passe essas fotos – pede o Arcebispo. – Mas como você pode dizer que essas fotos são da mesma estátua aqui da cidade?
- Ora, eu vi a imagem aqui. E acredito que o povo tenha fotos tiradas aqui. Qualquer perícia poderá provar que é a mesma estátua! – responde Tatá.
- Isso mesmo- emenda Hugo Gossip – vamos ver as fotos que o povo tenha da estátua e vamos comparar.
- A Perereca deve ter fotos, pois ela fotografa tudo nessa cidade – intromete-se Silvia – Renata, vá chamar seu filho e a amiga dele.
- É pra já! Vamos tirar isso a limpo – prontifica-se a beata que sai em direção de casa.
- Por falar em filhos, cadê Rebecca, não veio com você, Tatá? Essa desnaturada não veio ver sua mãe? – reclama Tatiane.
- Olhe, Tatiane, até a chamei pra vir comigo, mas ela preferiu ficar em Salvador. Disse que ia encontrar com sua amiga Carla Perez e Xanddy.

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Na manhã seguinte, o investigador, junto com Quitéria, analisa as fotos de Perereca e os recortes de jornal e conclui que realmente a imagem roubada da Igreja era a escultura de Botero.
- Estranho! Então quem roubou essa imagem devia saber disso – pensa o investigador.
- Ou não tinha a menor idéia do valor da obra e roubou apenas para afrontar as beatas – sugere Quitéria – De qualquer forma, a investigação está apenas começando.
- O mais estranho é como essa imagem veio parar aqui nessa cidade.
- Sim, mas quem trouxe essa imagem foi o velho Oc...
- Que por sinal está sumido!
- Ahnnn! Será que o real ladrão veio atrás dele? Será que foi o velho que pegou a estátua?

Eles são interrompidos por Tatiane, que entra aos prantos na delegacia:
- Meu Deus! Meu Deus! Me ajudem! Me ajudem!
- O que houve, Tatiane?
- O Sebastian, meu marido...O Sebastian, está morto!

FIM DO DECIMO SETIMO CAPITULO

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