Brejo Fundo - Capitulo I

O dia começa com uma grande confusão na cidade. Renata Angeli está discutindo com padre Renato, dizendo que ele não tem feito bons sermões e por isso a igreja tem ficado vazia. Ela disse que ele precisa fazer alguma ação para convencer o povo a voltar para o templo. Ela sugere que ele faça como Padre Marcelo Rossi ou Fábio de Mello e comece cantorias na Igreja, atraindo os jovens. Mas ele é contra. As demais beatas estão divididas. Tatiane Oliva é contra a mudança e diz que Renata Angeli está fazendo isso só porque quer seu filho Ifdan, recém chegado a cidade comece a freqüentar as missas. Quando elas estão discutindo, Ju de Paulla passa a caminho do mercado e as beatas param a discussão para falar da dona do prostíbulo. Ju de Paull, com suas longas madeixas num penteado bem moderno e com as pontas descoloridas, apenas debocha das corocas. Então Renata Angeli grita que é por causa desse capeta em forma de mulher que os homens pararam de ir a Igreja. Que a Ju Moraess fica cantando na Casa da Luz Vermelha e os homens são atraídos por sua voz!

Todos são surpreendidos pela voz da prefeita Sarah, que de posse de um megafone começa a gritar do coreto que aquele é um dia especial. A cidade está comemorando seu 300º aniversário na semana seguinte e ela quer convocar a população para a festa. Tatiane Oliva comenta com a surda-muda Vivi (como se ela pudesse entender algo) que não entende como a cidade pode existir a tanto tempo sem ter nem mesmo um santo protetor. Então ela vira para Renata e diz que teve uma ideia de recuperar os fieis para a Igreja. Poderiam fazer um concurso para escolher o santo padroeiro da cidade. E a escolha seria no dia de aniversário da cidade.

Sebastian, o médico, estava cruzando a praça em direção a seu consultório, quando é abordado por Renata. Ela fala com o médico que precisa que ele veja de novo sua irmã Vivi, pois a coitada não tem dormido direito à noite. Ele diz que nada pode fazer, pois a coitada é surda-muda e passa o dia dormindo, por isso sofre de insônia. Renata diz que se o médico não consegue resolver nada, que não deve ser médico de verdade. Ele então diz para ela procurar ajuda da macumbeira anã, pois se as rezas e a medicina não resolveram o problema de Vivi, talvez seja melhor usar esse outro artifício. Renata fica chocada e dá com o guarda-chuva no médico. Ele grita e o policial Donly vem apitando e pedindo ordem, pois não agüenta mais essa situação de confusão, babado e gritaria todas as manhãs.

Frederico está abrindo as portas do mercado e observando de longe essa algazarra. Nisso, Hiro chega com suas bugigangas paraguaias, descendo do ônibus, junto com Cris Perereca, amiga de Ifdan, que já estava esperando por ela na pequena rodoviária. Frederico olha para o japonês e fica irado, pois sabe que sempre que ele chega na cidade, ninguém compra nada no seu mercado, pois guardam suas economias para gastar com as tralhas falsificadas que ele traz. Hiro já chega gitando para Glaucio, que estava sentado no meio-fio, depois de mais uma noite bebendo todas: “trouxe cordões de prata e bonés! Sei que você adora”.

Renata não sabe se vai conhecer a amiga de seu filho que acaba de chegar ou se vai tirar o marido da sarjeta. Leo Ariano fica rindo da cara da pobre beata, que se ente humilhada sempre que vê o marido nessa situação. Ela decide então partir para cima de Fred, culpando-o por vender bebida para o marido. Fred se defende, dizendo que não vendeu nada para ele, e que quem comprou Domecq na noite anterior foi a sua ex-mulher Silvia e que não tem culpa se Glaucio prefere Silvia à esposa. Renata esbraveja dizendo que Fred não tem culhões para impedir a ex-mulher de ficar ali no bar com o marido dela.

A prefeita continua seu discurso no megafone, dizendo que conta com a participação de todos na grande quermesse que será realizada na semana seguinte. Ela explica como será a festa e conta que haverá apresentação gratuita do circo e que uma grande atração chegará à cidade para esse evento. Com isso conseguiu atrair a atenção de todos e o restante do dia o único assunto na cidade era a grande festa.

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Final de tarde, Sr. Oc está caminhando pela margem do Rio Morto quando avista uma cesta boiando próxima à margem. Desconfiado, olha para os lados para ver se alguém o espreita. Como ele tem “olhos rápidos” e “olfato apurado” de quem vive há muito tempo embrenhado no mato ele faz o movimento que é sua maior característica (para aguçar visão e olfato ele costuma fazer um movimento de arregalar os olhos, franzindo a testa ao mesmo tempo em que respira fundo e faz um bico com os lábios). Percebe então que está sozinho e o único cheiro que sente é de um fogo, muito próximo, provavelmente Nath Al Meida preparando um peixe para sua refeição.

Ele se joga no rio e nada até a cesta. Vê que dentro dela há uma estátua de mulher, coberta com um vestido brilhoso, olhos com uma sombra azul esfumaçada, uma cicatriz no joelho e tatuagens pelos braços. Ele pega o cesto e a imagem e leva para a margem do rio. Com seu olfato apurado, segue a fumaça e cheiro de peixe e encontra com Nath Al Meida. A velha índia lhe oferece parte de sua refeição e ele, faminto como sempre, aceita. Ele mostra a imagem e ela diz que é mlhor levarem para a cidade, pois pode ser de alguém que a tenha deixado nas margens. Ela fala que como há um circo na cidade e que tem uma anã macumbeira no grupo, talvez tenha sido um despacho dela. Como o velho não gosta de ir à cidade, ele prefere deixar a imagem com a índia para que ela leve para a delegada Quitéria.

FIM DO PRIMEIRO CAPITULO

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