Loucos

Loucos?

Fui a uma famosa casa de espetáculos do Rio de Janeiro para uma apresentação de músicos de renome nacional num projeto denominado “Loucos por Música”. Trata-se de um projeto beneficente inspirado no trabalho da Dra. Nise da Silveira em prol dos doentes mentais de diversas instituições de nosso estado. Me surpreendi quando logo no início da noite o casal de mestres de cerimônia apresentaram alguns documentários no telão. Os médicos e voluntários que trabalham nessas instituições não chamam os doentes mentais de pacientes e muito menos de loucos. Eles são USUÁRIOS. Usuários de serviços de psiquiatria e outras atividades. Mas para o restante da população – os leigos – eles são apenas LOUCOS.

Essa “revelação” me levou a refletir e questionar o uso do termo USUÁRIO. Em geral essa expressão é utilizada para designar os drogados, que são usuários de entorpecentes. Traficantes, polícia, imprensa, ou seja, todos os que tem algum tipo de contato com esse universo se referem aos drogados como USUÁRIOS. Por outro lado, quando os usuários estão sob efeito dos entorpecentes, para todo o restante da população – os leigos – eles são apenas LOUCOS. Fulano fumou um baseado e ficou LOUCO. Ciclana tá LOUCA de tanto pó. Beltrano vive LOUCO de tanta cachaça que bebe.

Sem querer induzir a conclusão alguma, apenas comparando os dois usos da expressão USUÁRIO explicitados nessa crônica: será que em todas as suas acepções esse termo se refere sempre a LOUCO? Podemos concluir que os usuários – doentes mentais ou drogados – são LOUCOS? Em comum, eles não têm consciência sobre seus atos e por viverem (os doentes) ou estarem (os drogados) num estágio mental que não nos permite discutir com eles. Acabamos por deixá-los em paz, sem interferir em suas “viagens”.

Mas usuários não são apenas os doentes mentais e aqueles que fazem uso de entorpecentes. No ambiente corporativo das grandes organizações, especificamente na área de tecnologia da informação (TI), aqueles que solicitam mudanças nos sistemas existentes ou criação de novos produtos de informática são denominados USUÁRIOS. São usuários da tecnologia. Todo analista de sistemas chama assim os seus clientes. E, como esses clientes não possuem o conhecimento técnico dos especialistas em tecnologia, muitas vezes fazem solicitações de projetos e sistemas que são inviáveis de serem implementados dentro do prazo pré-estabelecido por eles mesmos.

Voltando ao uso da palavra USUÁRIO: será que podemos concluir que trata-se de um sinônimo para LOUCO? Todos os usuários vivem num mundo irreal, com suas “viagens”? Ou seriam os usuários de tecnologia diferentes dos demais exemplos?

(Autor: Fred Mendelski – 10/07/2008)


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