Está estreando hoje em todo o Brasil o filme documentário “Axé – Canto do povo de um lugar”, dirigido por Chico Kertész e produzido por Piti Canella. Tive o prazer de ir na pré-estreia que rolou na terça feira no Espaço Itaú de Cinema, em Botafogo, quando além de ver esse excelente e emocionante documentário, ainda pude reencontrar Piti (que costumo encontrar apenas no Carnaval em Salvador) e Daniela Mercury, que nos esbaldou com um pocket (nem tão pocket assim) show que foi maravilhoso, coroando a noite com a improvisação de um trio elétrico sobre seu carro na rua em frente ao cinema.
O documentário traz um pouco da história desse movimento que assim foi batizado em tom pejorativo por alguns jornalistas e críticos que tentavam diminuir sua importância e qualidade. Mas o movimento, que tem mais de 35 anos cresceu e muito, formando grandes nomes de sucesso, como Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Netinho, Carlinhos Brown e quebrou as barreiras geográficas da Bahia e Brasil, se tornando conhecido mundialmente e atraindo artistas como Paul Simon e Michael Jackson.
O filme começa já arrepiando quem está na cadeira da sala de cinema. Enquanto imagens antigas de trios elétricos aparecem na tela, ouvimos em off Ivete Sangalo entoando “Já chegou o Verão, calor no coração, a festa vai começar...” numa versão acústica. Essa foi a primeira vez que me arrepiei. Depois ainda me arrepiei quando mostraram Luiz Caldas, Chiclete com Banana, Netinho, Daniela Mercury... Conhecer um pouco mais da carreira de cada um deles e ouvir aquelas músicas que marcaram nossa adolescência e juventude (e ainda fazem história até hoje) é realmente de trazer lágrimas aos olhos. Mesmo que nunca foi fã de Axé tem as músicas em sua vida. Quem nunca cantou “eu vou atrás do trio elétrico eu vou, curtindo minha baianidade nagô” ou “Eu falei Faraó!”? Quem nunca se arrepiou com a batida do Olodum ou rebolou na boquinha da garrafa com o grupo É O Tchan quando ainda se chamavam Gera Samba?
É essa história afetiva que o documentário resgata, trazendo o contexto histórico, bastidores, dificuldades que os artistas tinham para conseguir gravar e expor seu ritmo para o Brasil. Chacrinha ganha grande destaque, principalmente por trazer Luiz Caldas (“nega do cabelo duro, que não gosta de pentear”) e Sarajane (“Vamos abrir a roda, enlarguecer”) ao seu programa e mostrar para todo o país o que acontecia na terra que mais influência teve dos movimento afro.
Tirando esse lado afetivo e analisando um pouco mais criticamente, alguns pontos me incomodaram no filme: a quase ausência de Claudia Leitte, que aparece apenas fazendo um depoimento sobre Daniela Mercury e num outro momento com imagens de seu clipe de “Corazón”, mas sem nenhum comentário sobre o Babado Novo ou o início de sua carreira. Outro ponto foi a tentativa de empurrar goela abaixo que Saulo é a melhor tradução do Axé atualmente a grande aposta para o futuro. Forçaram a barra, embora eu realmente goste dele e ele seja a simpatia em pessoa.
Além dessas duas situações, outra que trouxe certo desconforto foi a crítica que vários artistas fizeram à falta de união entre a classe. Que vivem uma verdadeira luta para conquistar seu espaço e não trabalham juntos impulsionando um ao outro. Netinho, Margareth Menezes e Letieres foram bem enfáticos. Aí aparece Ivete falando que nunca viu isso e que quem disse isso está equivocado. Fica então no ar a questão: quem estará certo nessa discussão? Prefiro não emitir aqui minha opinião, mas fica claro que há realmente algo estranho no ar.
Em resumo, o documentário tem um grande valor como registro histórico, incluindo depoimentos de diversos artistas, jornalistas, empresários ligados ao Axé e vale também como primeiro grande registro da história desse povo de um lugar chamado Bahia e seu movimento que vai muito além do canto, batizado de axé. Vale a pena conferir!
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