Para a comemoração de seu aniversário de 50 anos – completados em 28 de julho - Daniela Mercury estreou um novo show, acompanhada apenas pelo violonista Alex Mesquita. Ela fez duas apresentações em São Paulo e mais uma em Paulínia no início de Agosto. Depois disso, excursionou pela Europa com outro show, mais dançante. Ontem à noite, dia 16 de setembro, ela voltou a apresentar esse espetáculo, dessa vez aqui no Rio de Janeiro, no Theatro NET em Copacabana.
Quando vi o nome do show, achei um pouco arrogante da cantora usar a expressão “A Voz”. Conhecida por seu trabalho de Axé, mas com um disco de sua carreira mais voltado para a MPB – o álbum “Clássica" – não conseguia vê-la como A voz. Mas me enganei redondamente. Seu timbre forte, sua voz rouca e o seu sotaque baiano tornam sua voz realmente única. E, acompanhada apenas de um violão, ela conseguiu destacar esse seu grande atributo. Ela descortinou alguns clássicos de sua carreira, como “Canto da Cidade”, “Música de Rua”, “O Mais Belo dos Belos”, “Ilê Pérola Negra”, “A Rainha do Axé”, “Nobre Vagabundo”, “À Primeira Vista”, “Dara” e muita coisa da nossa vasta MPB, como “Como é grande o meu amor por você”, “Desafinado”, “Como Nossos Pais”, “Dia Branco”, “Que nem Jiló”, “Negrume da Noite”, “Coração Alado”, “Super Homem” e muitas outras. Até música portuguesa, um rock cujo nome não lembro e “Canção do Mar”, fado de Dulce Pontes. Foram duas horas e meia de apresentação, uma das melhores de Daniela em toda a sua carreira. E olha que amo os seus shows.
Brincando muito com a plateia e contando diversos “causos” – como ela já havia feito em “Pelada” – Daniela também trouxe temas densos, como a miséria e seca no Nordeste, o desgoverno de nosso país, a luta pela democracia, relembrando os anos de ditadura com duas canções que extasiaram o público. Ela apresentou “Cálice” e ao final, deitada no chão, retomou com “Sonho Impossível”. Arrepiei com essa escolha perfeita das canções. Ainda nesse clima político, contrastando a pobreza e alegria dos nordestinos com a visão rebelde dos burgueses de Brasília, ela apresentou “Há tempos” de Renato Russo. Outro momento muito aplaudido do show foi quando ela lembrou de uma apresentação de escola de sua irmã, em que o toca-fitas quebrara e ela precisou cantar uma música para finalizar a apresentação do grupo. E ela reproduziu o momento no palco, sem violão e sem microfone, cantando à capela “O bêbado e a equilibrista”.
Em determinado momento do show, Daniela pede ao público para interagir, cantando, dançando, declamando poesia. E, para nossa grata surpresa e alegria, estavam na plateia Elisa Lucinda que declamou lindamente o poema “Credo” e Geraldo Azevedo, que cantou “Dia Branco” com Daniela. Ainda rolou uma brincadeira com Gringo Cardia, a quem ela pediu que fizesse um cenário vivo, usando-se da plateia para isso. Timido, ele se levantou e disse que isso seria uma coreografia e não cenografia, mas aceitou a brincadeira e fez o publico balançar as mãos no alto para um lado e para o outro. Já no final do show, Daniela pediu mais uma vez a participação da plateia numa música. Era “Swing da Cor”. Ela pediu que os espectadores da primeira fila se levantassem e batucassem na beirada do palco, fazendo a percussão necessária para sua performance. Também chamou Samantha Schmutz ao palco, para ajuda-la. Samantha não se fez de rogada, bateu palmas e pés numa dança flamenca e ainda pegou o microfone de Daniela para cantar a música, deixando-a boquiaberta com o vozeirão. Tenho certeza de que Daniela não sabe que Samantha também é cantora (lembram do post que fiz aqui sobre o show dela?).
Foi uma noite memorável, com um repertório irretocável e uma Daniela radiante. Aos que não foram, só digo uma coisa: SE RASGUEM! Ah ah ah!
Como sempre, fiz alguns vídeos e disponibilizei a playlist aqui. São vinte canções (ou trechos) que vão te dar uma pequena ideia do que foi essa noite.
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