Resgatando minha identidade...

Sou carioca, filho de gaúchos e, por conta disso, boa parte de minha família mora ainda na região dos Pampas. Há 24 anos estive em Porto Alegre pela última vez (ano passado passei por lá apenas para ir ao show da Shakira, mas isso não conta). Então, há muito tempo não via boa parte de minha família. Como uma tia mora em Florianópolis, ainda encontrava alguns tios e primos nas viagens que fazia para lá. Mesmo assim, acho que uns 10 anos me separam da última visita à ilha da magia.

Então, numa decisão de ímpeto, movido por uma saudade de muita gente e uma sensação de vazio, comprei bilhetes aéreos e fui para Porto Alegre nessa Páscoa. Foi uma viagem rápida, com objetivo de rever as pessoas queridas e  também fazer turismo. Revi parques e ruas dos quais mantinha vaga lembrança na memória do menino de 13 anos e também fui a Gramado, na Serra Gaúcha, lugar que ainda não conhecia. Todos os passeios foram ótimos, mas rever a família com certeza foi o melhor de tudo.

A receptividade de meus tios Fátima e Ramage logo no aeroporto, com um abraço ao mesmo tempo saudoso e acolhedor, parecia que não nos víamos há poucos meses apenas. No dia seguinte, meu primo Vander e sua esposa Berê, que eu não via há 15 anos, se juntaram na casa da minha tia. E ficamos juntos boa parte do fim de semana. 

No Domingo de Páscoa, reencontrei a querida Tia Alda, a prima Denise e conheci seu marido, Victor Hugo. Nas conversas e fotografias, descobri que essa parte da família eu não via desde o verão de 1985, em Saquarema. NOSSA! Como foi bom o churrasquinho e bate papo com eles.

O momento de mais emoção porém foi o reencontro com meu padrinho Flávio e seu pai, Marco Antônio. Eles ainda moram no mesmo endereço, porém a casa que tinha parreiras, cães e um quintal cujo perfume ainda povoava minha mente foi substituída por um edificio, frio, como todos prédios o são. Ali senti um arrepio... Poxa, por que fiquei distante por tanto tempo? Nem tive oportunidade de me despedir da Tia Nilda, mãe de Flávio, que nos deixou há alguns anos.  Meu primo Marcelo, irmão do dindo, me recebeu na portaria e avisou: talvez o tio não me reconhecesse, pois depois de ter sofrido um AVC, parte de sua memória foi prejudicada. Já meu padrinho, segundo ele, sabia quem eu era. Ele também tem sequelas de um AVC que o abateu ainda jovem, com 30 anos, mas a memória não foi abalada.

Quando entrei no apartamento, vi meu tio deitado em seu leito. E ele me viu também. Imediatamente esboçou um sorriso. Esse sorriso dizia tudo que ele não consegue mais falar. Ele me reconheceu... Me contive para não deixar as lágrimas rolarem (agora enquanto escrevo, elas caem docemente pelo meu rosto). Lhe beijei a testa, troquei algumas palavras e fui ao quarto ao lado, onde meu padrinho já estava ansioso por me ver. Antes de eu entrar, ele já sorria e se balançava de alegria. Cheguei perto, ele pegou minha mão, com tanta força quanto poderia, apesar de seu estado debilitado. E não me soltava mais. Ele ria a cada história que eu lembrava, a cada caso que eu contava de histórias que vivi depois da última visita. Era um misto de alegria e tristeza dentro de mim, uma ebulição de sentimentos, arrependimento por não estar ali tão próximo, uma dor de saber que talvez não o veja mais... Muita coisa ao mesmo tempo. Aqueles 30 ou 40 minutos de visita fizeram valer a viagem. Lembrei (e ainda lembro) de tanta coisa que vivemos. Tantas alegrias, tanta coisa que ele fez por mim...

Nao devemos nunca deixar de ter contato com quem é ou foi importante na nossa vida. Essa foi a lição que tirei dessa viagem. Também descobri que não existe distância física ou temporal para o amor. Quando amamos, ele é eterno.

Fiquei um pouco triste por não ter encontrado meus outros tios, um irmão de meu pai e outro, de minha mãe, mas ambos estavam fora da cidade para a Páscoa. Mas, nos passeios que fiz pelos parques e em especial no pôr-do-sol que assisti sozinho no Guaíba, ficou a certeza: nós nunca estamos sozinhos. Sempre alguém está ao nosso lado.



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