Brejo Fundo - Capítulo 10

- Não consegui contar nada pra Nath. Ela nunca mais quis saber de mim, se afastou achando que eu tinha matado nossa pequena. Ela ate fala comigo hoje, mas é mais por pena do que qualquer outra coisa. Ela sabe que os espíritos ainda perturbam minha vida. Sou uma alma errante, nunca me perdoei. Mas desde que essa santa apareceu, sinto que fui redimido – o velho chorava compulsivamente. A imagem veio para mim numa jangada semelhante à que fiz para o rio levar minha filha. Eu fiquei muito nervoso quando vi aquele objeto vindo pelo rio. Foi um sinal de Deus!
- E como a Ju foi encontrá-lo?
- Ela já estava na cidade há algum tempo, sempre procurando informações de quem eu era, se eu ainda estaria vivo. Mas ela também não sabe que Nath é sua mãe!
- E é melhor que não saiba, velho!
- Eu também acho! Se Nath e ela se encontrarem, nem sei o que pode acontecer!
- Velho, quem mais sabe dessa história?
- Só nós 3, Sr. Torres!
- Então vamos deixar o assunto por aqui mesmo.

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O ônibus do dia trouxe poucos passageiros. Entre eles, Pymenta, irmão de Silvia, que o esperava na praça. Assim que ele desceu do ônibus Silvia o abraçou de forma demorada... Ele logo perguntou:
- Você falou com seu marido que estou vindo de vez para a casa de vocês?
- Bom, falei, mas tem algo que você ainda não sabe... Nós não somos mais casados?
– Como assim, minha irmã?
- Ih, te conto em casa, venha! – disse, pegando uma das malas.

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Tatá está preparando sua mala com a ajuda de Ana Terra. Ana diz:
- Tatá, mais uma vez, não sei como te agradecer por tudo que fez por mim.
- Aninha, você não tem o que agradecer. Desde o primeiro instante que te vi, sabia que você era uma pessoa maravilhosa, que sempre faria tudo por mim. Por isso te aceitei na minha equipe. Mas também percebi que você tinha uma tristeza profunda, alguma coisa a fazia sofrer. E nunca te vi tão radiante como no dia que chegamos aqui. Vá viver seu grande amor. Não seria justo eu privá-la disso...
- Ai, Tatá, vou sentir tantas saudades suas, das nossas conversas nas madrugadas, dos dias presas em aeroportos com vôos atrasados, de tantos momentos inesquecíveis.
- Se foram momentos inesquecíveis, eles já se bastam. São INESQUECÍVEIS. E, por isso, sempre teremos isso para nos fazer sorrir.
- Queria tanto ir com você, mas ao mesmo tempo quero ficar aqui com Nando.
- Fique com ele, pelo menos um tempo por aqui. Quem sabe depois vocês não decidem encontrar seu canto. Talvez até mesmo fora do país...
- Ai, Tatá, imagina! Seria um sonho transformado em realidade.
- Então batalhe por seus sonhos!
- Claro! Isso eu aprendi com você.
- Me dá uma abraço, vem!

As duas se abraçam e lágrimas rolam dos olhos de Ana. Nando bate na porta do quarto e avisa que o helicóptero já está pronto para a partida.
- Melhor se apressarem, pois a noite se aproxima e não é recomendado voar a noite por aqui! – completou ele.

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Fernanda e Ronaldo estão sentados na mesa do bar discutindo a lista de convidados para casamento quando o histérico Pymenta entra no bar:
-  Amigos que me amam, cá estou de volta nessa cidade linda! Quem estava com saudades do tio aqui?
Gláucio se levanta da mesa onde estava com Silvia e va abraçar o velho amigo.
- Pymenta, que alegria tê-lo de volta!
- Alegria maior vai ser vê-lo todos os dias aqui no bar, mas aqui desse lado do balcão! – gritou Fred, que estava atrás da bancada – Silvia ainda não te disse que você vai trabalhar aqui comigo? Pois então, pode pegar esse avental aí e SINTA-SE EM CASA!
- Calma, Fred! Eu sei que tenho que trabalhar, a Silvia já me disse, mas hoje é domingo, dia de descanso, né?
- Ora, ora! Você nem começou a trabalhar e já quer descanso! Pode vir para cá agora mesmo, seu preguiçoso metido a malandro.
- Ok, ok, patrão! – ironizou ele.

Aline entra no bar com a lista de compras para a fazenda e vê o casal Ronaldo E Fernanda sentados no canto. Ela tenta disfarçar, mas não consegue. Vai pegando as mercadorias nas prateleiras e colocando na cesta o mais rápido que pode. Como ela quer sair dali sem ser percebida! Mas Ronaldo a viu, porém achou melhor nem comentar nada. Fernanda também percebe o nervosismo da negra e pergunta:
- Ronaldo, o que a Aline tem?
- Não sei, acho que é ciúmes. Sabe como é, ela é quase uma irmã, fomos criados juntos. Acho que ela não gostou de saber que vou casar.
- E nem você, né?
- Nem eu o quê?
- Não gostou de saber que vai casar, né? Eu queria tanto que você gostasse de mim.
- Claro que não, Fer. Não é isso, só não estava preparado para isso acontecer assim tão rápido. Mas eu gosto de você.
- Você me ama?

E foram interrompidos por Pymenta que gritava:
- Amigos, para celebrar minha volta à essa cidade, quero convidar todos para uma noitada na Casa D’Ju! E hoje será por minha conta! Só peço que deixem a melhor rapariga para mim!
- Mas será que tu vai dar conta? – respondeu Fred também em voz alta  Fiquei sabendo que tua mulher te deixou por outra. Acho que você não dava no couro direito!
Gláucio cuspiu longe a cerveja que bebia e Silvia se engasgou. Os dois se olharam e em seguida se viraram para Pymenta. Ele apenas riu, sem graça.
- Fred, se não tem nada de bom a dizer, fique de boca fechada! – bradou Silvia
- Quem é você pra vir com liçãozinha, hein, sua fofoqueira?
- Calma, calma, gente – disse Ronaldo se levantando para nem deixar que um se aproximasse do outro.
- Deixe ele, mana. Meu cunhado nunca gostou de mim e acha que pode me afetar com essas palavras!

Gláucio se levanta e diz:
- To pronto!
- Pra que? – Pergunta Silvia
- Ora, pra ir pra Casa D’Ju!
- Se esse malandro ta pagando, eu também vou! O bar vai fechar mais cedo hoje! – conclui Fred, enquanto dava o troco para Aline.

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Aline nem dormiu direito à noite. Só conseguia pensar em Ronaldo se casando Fernanda, aquelazinha sem graça. Chorou a noite toda e nem percebeu que o dia já tinha clareado. Levantou e foi preparar o café. Surpreendeu-se com PV de pé, entrando em casa. Preferiu nem falar com ele e fingir que não o via. Olhou pela janela e viu que ele o cavalo estava lá fora. Com certeza ele passara a noite na Casa D’Ju.


FIM DO DECIMO CAPITULO

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